Dois dias antes dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, José Bernardo da Silva (conhecido por Orlando) e Rodrigo Celestino, foram assassinados a tiros em Alhandra (João Pessoa/Paraíba), na noite de sábado (8).
De acordo com a nota divulgada pela direção do MST-PB, o assassinato foi cometido por capangas encapuzados e fortemente armados, enquanto as vítimas jantavam no acampamento Dom José Maria Pires, área da Fazenda Garapu - pertencente ao Grupo Santa Tereza, ocupada desde julho de 2017 por cerca de 450 famílias que lutam pela reforma agrária.
Segundo o site da Polícia Civil da Paraíba, as investigações apontam para a hipótese de execução, pois as vítimas estavam acompanhadas de duas outras pessoas no momento do crime. Essas testemunhas se afastaram, a pedido dos atiradores, que queriam alvejar apenas Orlando e Rodrigo.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra “exige celeridade nas investigações e convoca os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade a seguirem em luta contra a atual repressão e os assassinatos em decorrências de conflitos no campo”.
Solidariedade da Procuradoria Geral da República
A Procuradoria Geral da República (PGR), a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão na Paraíba (PRDC/PB), órgãos do Ministério Público Federal, manifestaram solidariedade aos familiares de José Bernardo da Silva e Rodrigo Celestino.
"Diante desse quadro, a PGR, a PFDC e a PRDC/PB reiteram o compromisso com a proteção dos direitos humanos dos assentados e envidarão todos os esforços perante os órgãos de investigação para que a autoria do duplo assassinato seja esclarecida e os responsáveis punidos conforme a lei", afirma a nota, assinada por Raquel Dodge, Procuradora-Geral da República, Deborah Duprat, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão e José Godoy, Procurador Regional dos Direitos do Cidadão.
Futuro Ministro de Bolsonaro defendeu ‘bala’ contra MST
O extermínio aconteceu na mesma semana em que o nome de Ricardo Salles (Partido Novo) foi anunciado para o Ministério do Meio Ambiente do Governo de Jair Bolsonaro. O advogado e futuro ministro responde processo movido pelo Ministério Público de São Paulo sob acusação de fraude contra a legislação ambiental, à época em que compôs equipe do governo de Geraldo Alckmin.
Ricardo Salles conta com apoio da bancada ruralista e preside o movimento “Endireita Brasil”. Durante a campanha ao cargo de deputado federal por SP, usou as redes sociais para incitar a violência.
Mesmo após nota do Partido Novo criticando o posicionamento do candidato, Salles ainda se manifestou "contra a bandidagem no campo", se referindo aos movimentos que lutam pela democratização das terras no país. Defendeu o uso do fuzil ‘3006’, seu número nas urnas, em alusão à munição que deveria ser usada para silenciar qualquer tipo de manifestação.
Salles e Bolsonaro estão afinados ideologicamente, pois o presidente eleito prometeu tipificar atos do MST e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) como terrorismo.
Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira