Jan
29
2019

Modelo privatizado e transnacional de mineração resultou em tragédias, diz movimento de atingidos

Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) falou na abertura do 38o Congresso do Andes-SN, em Belém do Pará

 

Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Robert Rodrigues, fala na abertura do 38o Congresso do Andes-SN Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Robert Rodrigues, fala na abertura do 38o Congresso do Andes-SN

Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) falou na abertura do 38o Congresso do Andes-SN, em Belém do Pará

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Os dois desastres ambientais e humanitários envolvendo a Vale no espaço de três anos resultam de um "modelo de mineração privatizado e transnacional, inteiramente a serviço do lucro das grandes empresas". Quem afirma é o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que atua nas áreas afetadas em Minas Gerais por meio de brigadas que buscam sobreviventes e ajudam a socorrer vítimas e seus familiares. Representante do MAB falou na abertura do 38o Congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), iniciado no dia 28 de janeiro de 2019, na cidade de Belém, capital do Pará.

O rompimento de barragem de rejeito de minério da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que faz parte do Complexo Paraopeba, ocorreu na sexta-feira (25). Estima-se que 14 milhões de metros cúbicos de rejeitos provenientes da exploração de minério de ferro tenham sido despejados no Rio Paraopeba, afluente do São Francisco. O Corpo de Bombeiros já havia confirmado, até o fim do dia da terça-feira (28), a morte de 65 pessoas, mas estimava em 292 o número de desaparecidos. A tragédia repercutiu no país e no mundo e gerou tristeza e indignação, também expressada nas redes sociais.

‘Crime’

Integrante da coordenação do MAB, Robert Rodrigues disse que a Vale procura deslegitimar os movimentos sociais que atuam em torno da defesa dos atingidos por barragens e da população ribeirinha. “A Vale está tentando se desresponsabilizar e culpar os movimentos sociais”, disse logo no início da mesa de abertura congresso nacional dos docentes, em Belém. O coordenador do MAB, movimento que existe há 20 anos, pediu apoio e participação no trabalho de ajuda aos atingidos e na luta para denunciar e combater o que está acontecendo. Ele disse que a previsão é de que 19 municípios sejam atingidos pelo desastre, que classificou como um “crime” da Vale, assim como ocorrera em Mariana, três anos e dois meses atrás.

Em nota, o  MAB também afirma que o que ocorreu em Brumadinho foi um "crime continuado da Vale contra o povo brasileiro" e uma tragédia anunciada que poderia ter sido evitada. O desastre de Mariana, também em Minas Gerais, deixou pelo menos 19 mortos e destruiu a bacia do Rio Doce. Até hoje ninguém foi punido e nenhuma família recebeu as casas prometidas como parte da indenização. "Mais uma vez essas grandes empresas e a conivência dos governos demonstram as suas prioridades pelas taxas de lucro em detrimento da qualidade de vida da população. Não há desenvolvimento regional, há destruição de vidas e contaminação dos rios e da natureza", diz trecho de nota divulgada pelo movimento.

Para ONU, um crime a ser investigado

A ONU (Organização das Nações Unidas) também defendeu que o caso seja investigado como um crime. "Esse desastre exige que seja assumida responsabilidade pelo o que deveria ser investigado como um crime. O Brasil deveria ter implementado medidas para prevenir colapsos de barragens mortais e catastróficas após o desastre da Samarco de 2015", disse à BBC News Brasil Baskut Tuncak, relator especial das Nações Unidas para Direitos Humanos e Substâncias Tóxicas, referindo-se à tragédia de Mariana.

Privatização ocorreu em 1997

A então Vale do Rio Doce foi privatizada em 1997, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A privatização foi marcada por um forte movimento de resistência e uma série de decisões judiciais provisórias suspendendo o leilão. O consórcio controlador da ex-estatal tem como principal acionista o Bradesco.

Já uma das grandes do ramo na década de 1990, em 20 anos a empresa cresceu, mas voltada quase que apenas para a exploração e exportação de minérios, tendo a China como principal destino dos recursos do subsolo brasileiro. No período, as políticas econômicas adotadas no país contribuíram para a redução do peso da indústria na economia nacional e projetaram o Brasil como um grande exportador de commodities, produtos de origem primária de baixo valor agregado.

As privatizações são defendidas pelo governo de Jair Bolsonaro, cujo ministro da Economia, Paulo Guedes, vem falando em privatizar tudo o que for possível. A proposta, porém, não é popular. Recente pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha confirmou a posição contrária às privatizações como majoritária na população brasileira.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho, com informações de Lara Abib, enviada a Belém (PA).

Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Robert Rodrigues, fala na abertura do 38o Congresso do Andes-SN Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Robert Rodrigues, fala na abertura do 38o Congresso do Andes-SN

Additional Info

  • compartilhar: