Mai
26
2020

'Nós já botamo a granada no bolso do inimigo': Guedes expõe o que governo quer para o servidor

Presidente da Aduff diz que vídeo mostra com todas as letras o que já se denunciava: Bolsonaro usa pandemia para cortar direitos e se esquece de salvar vidas

 

DA REDAÇÃO DA ADUFF

"Nós já botamo a granada no bolso do inimigo". A frase dita pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, durante a reunião ministerial de 22 de abril, refere-se ao congelamento salarial imposto ao funcionalismo, aprovado sob a justificativa da pandemia do coronavírus, até janeiro de 2022. O "inimigo" a que ele se refere são os cerca de 11 milhões de servidores públicos federais, estaduais e municipais do país ou, indiretamente, as quase 34 milhões de pessoas que integram essas famílias, segundo a média da composição familiar do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Entre os inimigos estão profissionais da enfermagem e médicos, que formam a linha de frente na luta para salvar vidas durante a pandemia do coronavírus, professores, pesquisadores e outros profissionais da educação e ciência, trabalhadores da limpeza pública, da assistência social e de toda estrutura estatal que ganhou destaque em diversas áreas no combate à crise sanitária.

"Nessa confusão toda, todo mundo tá achando que tão distraído, abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamo a granada no bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário", disse Paulo Guedes, ao falar no final da reunião, cujo vídeo se tornou público por decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. O material integra as provas do inquérito aberto para investigar a denúncia de interferência indevida do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. 

'Torres inimigas'

A referência de Guedes aos servidores se deu logo após o ministro citar a 'reforma' da Previdência e a política de juros. Os servidores seriam a terceira "torre" dos inimigos a ser posta abaixo. Ao classificar o servidor como inimigo a ser explodido pela 'granada', a manifestação pode ser lida ainda como um projeto que vai além do congelamento dos salários por 18 meses. É conhecida a posição do ministro e do governo a favor da redução dos salários, prevista em proposta de emenda constitucional, e da demissão de servidores.

O presidente Bolsonaro não se manifestou quando Guedes expôs, de forma franca, o que avalia significar a aprovação do congelamento salarial. O presidente ouviu em silêncio e anotou alguma coisa num papel. Posteriormente, não mencionou o assunto quando falou. Fez elogios ao ministro, apontando a pasta como a única em que não há necessidade de interferências do presidente.

A professora Marina Tedesco, da Universidade Federal Fluminense e presidente da Aduff-SSind, ressalta que a reunião confirma algo que já vinha sendo denunciado. "Desde que foi anunciada a pandemia a gente tem alertado a categoria que a pandemia ia trazer dificuldades para o governo, mas também ia trazer oportunidades de tomar medidas muito impopulares, entre elas de atacar direitos dos servidores, já que nós somos alvo deste governo mesmo antes dele assumir", disse. "O que a gente viu no vídeo da reunião dos ministros é isso sendo dito com todas as letras. Isso não é algo que está acontecendo circunstancialmente em função da pandemia. Isso é um projeto e a pandemia está sendo utilizada por esse governo para esse fim espúrio, entre tantos outros", critica.

A docente observa que o vídeo explicita que a prioridade do governo não é salvar vidas, como deveria ser o objetivo de qualquer governo em tempos de pandemia, mas esvaziar o Estado no seu aspecto voltado para "o bem da população em geral". "E destinar os recursos [públicos] para pequenos grupos que já concentram muito [dinheiro] e dilapidam o Estado cada vez mais", finalizou.

Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho

Veja aqui o vídeo com a fala do ministro Paulo Guedes na reunião

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