Nós, docentes da Universidade Federal Fluminense abaixo assinados, vimos por meio desta nota, registrar a nossa indignação diante de algumas medidas adotadas pela reitoria da UFF de forma autoritária, sem consulta ampla à comunidade universitária.
A Resolução 156/2020 do CEPEX e a Instrução de Serviço 07/2020 da PROGRAD nos coagiram à formulação de planos emergenciais para estudantes concluintes, de forma açodada e sem diálogo, as Atividades Complementares Emergenciais nos foram impostas a toque de caixa, sem preocupação com a qualidade da formação que oferecemos e defendemos. Não há criatividade que permita oferecer adequadamente um curso de 60 horas em 9 ou 10 encontros destinados aos alunos formandos, sem que haja, também, clareza no critério que estipula quem é considerado formando.
Não há razão para tanta pressa: esta formação duvidosa não trará acesso a trabalho para os discentes no período recessivo que se anuncia, sem realização de concursos ou perspectiva de abertura de vagas de emprego, munindo-os de formação precária. Estágio online significa reduzir a Pesquisa e Prática Pedagógica a uma teoria insuficiente desprovida e desarticulada da prática. E ainda estaremos cometendo a impropriedade de afirmar que os 9 ou 10 encontros ofertados, dos quais apenas 30% serão de atividades síncronas, compõem um curso de 60 horas. Cai por terra o nosso projeto de formação humana, integral e crítica que sempre caracterizou o nosso trabalho.
O MEC se exime de sua responsabilidade de realizar um plano nacional na educação para enfrentamento da pandemia com estudos científicos, mobilização dos profissionais da educação e alocação de recursos às universidades. Enquanto isso, a reitoria da UFF, ao invés de buscar alternativas junto à comunidade acadêmica, coloca sobre os professores responsabilidades que são de ordem administrativa.
A decisão de tornar pública a nossa posição por meio deste documento tem como objetivo a construção, de forma participativa e em diálogo com a comunidade acadêmica, de alternativas para o ano de 2020. Temos ciência de que diante da gravidade do atual estágio da pandemia de coronavírus no Brasil, não há a menor condição de retomar as aulas presenciais, que consideramos a melhor maneira de ministrar uma formação de qualidade aos nossos discentes. À medida que a curva de transmissão do vírus ainda é ascendente, com alto grau de transmissibilidade e carecemos da efetiva proteção necessária para uma retomada das atividades presenciais, de acordo com recomendações da Organização Mundial de Saúde, das autoridades sanitárias e dos profissionais da saúde e da educação, de forma temporária, emergencial, e em absoluta situação de excepcionalidade, nos disponibilizamos a exercer atividades remotas de ensino.
De acordo com pesquisa Data Folha, cuja coleta de dados foi efetuada de 23 a 24 de junho de 2020, 76% da população é contra a reabertura das escolas nos próximos dois meses como propõem alguns governadores ou prefeitos. Muitos docentes pertencem a grupo de risco, seja pela idade, seja devido a condições de saúde. Não temos as providências necessárias para a circulação de alunos, técnicos, pessoal de apoio e professores em transporte público ou ainda condições de permanência em escolas e universidades que disponham de álcool gel, refeitório adequado, salas ventiladas e muitos outros requisitos para encontros presenciais.
Para a realização do ensino remoto necessitamos do tempo adequado para planejá-lo, com condições objetivas que efetivamente nos permitam efetuá-lo e estas vão muito além de nossa criatividade. Respondemos a mais de um questionário sobre nossa faixa etária, condições de saúde, condições de acesso à internet, domínio de plataformas online e outras questões. Os estudantes e servidores também responderam a questionários, ao menos aqueles que tiveram condições de acesso à internet. Para a realização de qualquer planejamento, é fundamental a publicização dos dados levantados pela universidade, seja pela reitoria, seja por coordenações de cursos, departamentos ou unidades.
Não há qualquer discussão aprofundada, do ponto de vista pedagógico, sobre como será o ensino remoto. Além disso, sobre as ferramentas digitais, não há qualquer estudo sobre os limites técnicos das plataformas digitais, segurança dos dados e viabilidade de realização das propostas pedagógicas. É preocupante como o ensino remoto está sendo encaminhado de forma antidemocrática. Este momento de exceção, causado pela pandemia, não deixa de ser um ensaio para a aplicação do Ensino a Distância em larga escala, como um mecanismo de desestruturar ainda mais o tripé ensino, pesquisa e extensão das universidades federais, o que nos obriga a manter uma permanente prontidão contra tentativas de transformar um momento de exceção em regra.
A Universidade deixou de gastar com energia elétrica, água, bandejão, transporte, manutenção e uma série de itens desde que o semestre teve os calendários acadêmico e administrativo suspensos. O montante economizado poderia se destinar ao suporte para alunos e alunas para acesso à internet, alimentação e outras necessidades, que poderiam ser planejadas a partir dos resultados das pesquisas. Falta transparência no acesso a estes dados. Falta suporte da reitoria à organização de nosso trabalho: nossas aulas ficarão gravadas, disponíveis em plataformas tipo Google Classroom, expondo-nos a controle político ou explorando nossa imagem?
Outras universidades procederam de modo diferente ao da UFF, a exemplo da UFRJ, que reestruturou o semestre, como já fizemos tantas vezes no caso de reposição após greve, postergando 2020.2 até 2021, repondo os dois semestres.
Reivindicamos debate amplo para um planejamento sério, comprometimento por parte da reitoria e protagonismo da Faculdade de Educação, frente às imposições que nos desrespeitam e nos tornam meros executores de políticas que não planejamos.
Alessandra Schueler – SFP - FEUFF
Ana Paula Morel – SSE - FEUFF
Andrea Serpa – SSE - FEUFF
Angela Rabello Maciel de Barros Tamberlini -SSE-FEUFF
Aroldo Magno de Oliveira – SSE - FEUFF
Cecília Fantinato – SSE - FEUFF
Cecília Goulart – SSE - FEUFF
Celia Letícia Gouvea Collet - SFP - FEUFF
Cláudia Alves – SFP – FEUFF
Denise Brasil – SSE - FEUFF
Elaine Monteiro – SSE - FEUFF
Érika Frazão – SSE - FEUFF
Gelta T. Ramos Xavier – SSE - FEUFF
Jaqueline Ventura – SSE - FEUFF
José dos Santos Rodrigues – SSE - FEUFF
José Luiz Antunes – SSE – FEUFF (aposentado)
Kênia Miranda – SFP - FEUFF
Lia Tiriba – SSE – FEUFF (aposentada)
Luciana Esmeralda Ostetto – SSE - FEUFF
Lygia Segalla – SFP - FEUFF
Maria das Graças Gonçalves- SFP - FEUFF
Maria Lúcia Oliveira – SSE – FEUFF (aposentada)
Maria Teresa Esteban – SSE - FEUFF
Mariana Paladino- SFP - FEUFF
Marília Etienne Arreguy – SFP - FEUFF
Marta Maia – SSE - FEUFF
Nazareth Salutto – SSE - FEUFF
Nilma Gonçalves Lacerda – SSE – FEUFF (aposentada)
Nívea Andrade – SSE - FEUFF
Pablo S. M. Bispo dos Santos – SSE - FEUFF
Patrícia Teixeira de Sá – SSE – FEUFF
Percival Tavares da Silva - SFP FEUFF - Aposentado
Reginaldo Costa – SSE - FEUFF
Regis Arguelles – SFP - FEUFF
Ronaldo Rosas Reis - SSE - FEUFF – Aposentado
Silvério Augusto Souza – SSE - FEUFF
Sônia Rummert – SSE – FEUFF (aposentada)
Zoia Prestes – SSE - FEUFF
Zuleide Silveira – SFP - FEUFF