Set
08
2020

Professoras da UFF têm diminuição de carga horária negada embora resolução preveja flexibilização

Para Aduff, machismo estrutural agravado pelo déficit de docentes na Universidade dificulta o acesso das professoras à flexibilização

Embora o Art. 12 da resolução N.º 160/2020 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEx) da UFF preveja a redução de carga horária de docentes “que se responsabilizam pelo cuidado de crianças, idosos e pessoas com deficiência” durante o período excepcional de ensino remoto na Universidade, a Aduff tem recebido várias denúncias de docentes, especialmente de professoras, que não estão conseguindo aprovar a flexibilização em seus departamentos.

De acordo com o documento que regulamenta o ensino remoto emergencial na UFF durante a pandemia da covid-19, a redução da carga horária é facultativa aos departamentos e deverá ser pactuada entre a chefia departamental e a (o) docente. Para a diretoria da Aduff, o machismo estrutural agravado pelo déficit de docentes na Universidade dificulta o acesso das mulheres à redução de carga horária, já que são elas que historicamente acumulam tarefas domésticas com cuidados dos filhos e de parentes idosos.

A seção sindical defende que a questão seja um dos pontos de avaliação do primeiro semestre letivo de 2021 e, caso o ensino remoto continue no segundo semestre, que uma nova resolução garanta a redução da carga horária às docentes, respeitada a legislação específica que define o mínimo de horas/aula.

“São inúmeras as denúncias que estamos recebendo de professoras que não estão tendo acesso ao seu direito, ou estão tendo muito trabalho para conseguir convencer seus colegas de coisas muito básicas, dada a dificuldade ou até mesmo a recusa de compreender o que é a sobrecarga do trabalho doméstico e o papel histórico atribuído à mulher em nossa sociedade de cuidado com a casa, com os filhos e demais integrantes da família. Em muitos casos, a demanda das docentes está sendo negada sem nem passar pelas reuniões de colegiado. Essa é a universidade e a sociedade que a gente tem. A UFF não está mais machista na pandemia, a UFF, como uma instituição inserida nesta sociedade, é machista”, ressalta a presidente da Aduff-SSind, Marina Tedesco.

A docente ainda enfatiza que a pós-graduação está estruturada num modelo de produtividade que adoece docentes e prejudica principalmente as mulheres. Ela pontua que a maioria dos relatórios para progressão na carreira não considera as questões relativas ao machismo estrutural e os atravessamentos de raça.

“Se a UFF tivesse realizado uma avaliação do período especial antes de começarmos o semestre letivo de 2020/01, essas coisas certamente já teriam aparecido e teríamos dados que mostrariam que o necessário era fazer uma resolução que obrigasse e não facultasse essa flexibilização. Isso tudo e mais o déficit de professores na Universidade – que foi apenas parcialmente suprimido pelas importantes convocações da semana passada – torna a situação da pandemia muito difícil para as docentes. Enquanto a flexibilização da carga horária for facultativa, nos parece que será um direito que existirá muito mais no papel que na prática”, destaca Marina.

Desigualdade estrutural afeta trabalho docente e produção científica

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada em junho deste ano, as mulheres brasileiras dedicam, em média, 21 horas semanais ao trabalho doméstico e/ou ao cuidado com pessoas da família. Os homens, em contrapartida, dedicam 11 horas semanais. A desigualdade na divisão das tarefas domésticas também vem cumprindo papel decisivo na disparidade do trabalho docente e na produção científica entre homens e mulheres durante a pandemia da covid-19 no Brasil.

Pesquisa desenvolvida pelo grupo “Parent in Science”, composto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de outras 9 instituições de Ensino Superior, apontou que mulheres negras, com ou sem filhos, e mulheres brancas com crianças até 12 anos são os grupos que tiveram maior queda na produção científica no decorrer da pandemia da covid-19. Para o levantamento foram colhidas aproximadamente 15 mil respostas de pesquisadores e docentes trabalhando em home office.

A pesquisa observou que 8,1% das docentes negras e 8,2% das professoras brancas declararam conseguir trabalhar remotamente sem grandes percalços. Entre os homens, esses valores ficaram em 14,1% para professores negros e em 18,8 % para brancos. Quando a parentalidade é acrescentada ao fator gênero e raça, o cenário se intensifica. De acordo com a pesquisa, somente 3,4% das mulheres negras professoras e mães declararam conseguir trabalhar no sistema remoto com o mesmo vigor de antes da pandemia. Para docentes brancas e mães, o percentual sobe para 4,4%. Entre os docentes negros que são pais, 12,2% deles afirmaram conseguir trabalhar de casa com a mesma produtividade de antes, enquanto 15,8% dos docentes brancos na mesma situação dizem o mesmo.  

Perguntados sobre o impacto do isolamento social na conclusão e publicação de artigos científico 40% das mulheres sem filhos afirmaram que não concluíram seus artigos, contra 20% dos homens. Entre as docentes sem filhos, 52% não concluíram os artigos, contra 38% dos homens. Um estudo realizado na Universidade de Toronto no Canadá também sugere que, em todas as disciplinas, a taxa de publicação de mulheres caiu em relação à dos homens em meio à pandemia de Covid-19.

Da Redação da Aduff | Por Lara Abib

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