Nov
24
2020

Ato por Beto Freitas: "Queremos uma sociedade sem racismo, em que a polícia não nos mate todo dia"

 

Foi o que disse diretor da Aduff durante manifestação por justiça para homem negro assassinado por seguranças, um deles policial, no Carrefour em Porto Alegre
"Queremos uma sociedade em que a gente não tenha que provar que é ser humano todo dia", disse o professor e diretor Reginaldo Costa, da Associação dos Docentes da UFF (Aduff-SSind), durante ato por justiça para João Alberto Silveira Freitas, homem negro assassinado por seguranças, um deles policial militar, após fazer compras no Carrefour em Porto Alegre.
 
A manifestação ocorreu em frente ao Carrefour de Neves, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, na tarde deste domingo, 22 de novembro de 2020, três dias após o assassinato de Beto Freitas, aos 40 anos de idade, na véspera do Dia da Consciência Negra. Ele foi socado no rosto pelo menos 18 vezes por um dos seguranças, enquanto outro o segurava. Depois, eles o asfixiaram por cerca de quatro minutos, como revelam vídeos de câmeras que captaram o momento.
 
De acordo com as imagens disponíveis, as agressões físicas começaram após Beto tentar atingir um dos seguranças com um soco. Embora provável, não é possível saber pelas imagens se o ato decorreu de algo que o segurança lhe falou.
 
Os seguranças Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, terceirizados, são do Grupo Vector, que possui entre seus proprietários policiais militares, o que é ilegal. Giovane Gaspar é também policial militar temporário do Rio Grande do Sul. Eles estão presos. Imagens mostram que um terceiro segurança agride Beto.
 
Toda a ação foi acompanhada por uma funcionária do Carrefour, Adriana Alves Dutra, segundo o jornal "Folha de São Paulo", que seria fiscal da loja. Aparentemente, de acordo com as imagens captadas, ela teria poderes para impedir as agressões, mas, ao contrário, parece ter corroborado com a ação. “Se você conseguir acalmar ele, eu tiro todo mundo de cima dele [Beto Freitas]", disse a alguém que filmava a agressão e questionava a razão da violência sobre o cliente.
 
Protesto
 
O ato em Neves teve a participação de manifestantes de Niterói, Maricá e Itaboraí, além de São Gonçalo. A loja do Carrefour estava aberta até pouco antes do ato, tendo sido fechada assim que os manifestantes chegaram ao local. Outro ato aconteceu, também à tarde, em frente ao Carrefour do Norte Shopping, no Rio de Janeiro.
 
Ao falar durante o protesto, o diretor da Aduff disse que é preciso construir um movimento que mude essa realidade, na qual crimes como esse, contra negras e negros, não são casos isolados, mas uma regra. "A solução não vai vir de nenhum governo de cima para baixo. O que está em jogo aqui é a nossa auto-organização. A solução tem que vir de nós, numa sociedade superior, em que não haja racismo, que não haja desigualdade social, em que a gente tenha direito de ir e vir como qualquer um", disse.
 
O dirigente da Aduff defendeu uma mobilização conjunta que seja capaz mudar essa história. "É um momento muito importante, em que a gente está homenageando mais uma vida que foi perdida. Mas também da gente dar um passo a mais agora e [defender] uma agenda que reafirme que a gente vai colocar mais negras e negros nas universidades, mais dinheiro para saúde e educação, que a polícia não nos mate todo dia, que a gente tenha direitos, que a gente não tenha que provar que a gente é ser humano todo dia", disse.
 
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho
Fotos: Cléver Félix

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