Mai
06
2021

Favela pede socorro e denuncia maior chacina da história do Rio em ação policial

Operação da Polícia Civil que já conta 25 corpos ocorreu apesar de decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe ações como esta em favelas durante a pandemia

 

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Moradores e organizações da sociedade civil estão pedindo à população para que denuncie o que já é considerada a maior chacina em operações policiais da história do Rio de Janeiro e se solidarize com a comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte da capital fluminense. Uma das iniciativas no Twitter pede que seja postada a hashtag #ChacinaDoJacarezinho!. Um ato está sendo convocado para as 7 horas da manhã desta sexta-feira (7) na Cidade da Polícia, próximo ao Metrô de Maria das Graças.

 Pelo menos 25 pessoas foram mortas nas três horas iniciais numa operação da Polícia Civil, nesta quinta-feira, 6 de maio de 2021, autorizada pelo governo do Estado, cuja legalidade está sendo questionada. A corporação informou que um policial foi morto com um tiro na cabeça. Nas redes sociais, postagens atribuem a excessiva violência policial a uma operação de vingança da morte do agente.

Vídeos e fotos com denúncias de moradores da favela relatam cenas de execução à queima-roupa na comunidade, quase todos jovens e a maioria negra. A operação contraria uma decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe a realização de operações policiais nas comunidades durante o período de pandemia, exceto em situações inevitáveis e sob acompanhamento das instituições judiciais.

De acordo com a corporação policial, a ação, intitulada “Operação Exceptis”, foi comandada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, com apoio de outras unidades, 'contra a atuação de traficantes que estariam aliciando crianças e adolescentes para integrar o Comando Vermelho", facção que explora o território.

O resultado da ação contradiz qualquer tentativa de proteção a adolescentes. O governador do Estado, Cláudio Castro (PSC),  não explicou as razões de se contrariar a decisão do STF e desencadear a operação durante o mais grave momento da pandemia da covid-19. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, que defende as atuações ilegais de milícias, Castro tomou posse definitivamente faz apenas seis dias.

Em entrevista a jornalistas, o delegado Felipe Cury, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), negou que tenha havido execuções por parte das forças policiais.  "A única execução que houve na operação foi do policial, infelizmente. Ele foi executado friamente pelos traficantes. As outras mortes foram de traficantes que atentaram contra a vida dos policiais. Houve resposta e acabaram sendo neutralizados", disse.

Mais cedo, o advogado Joel Luiz Costa publicou vídeo no Twitter afirmando, emocionado, que o que estava presenciando demonstrava que não há democracia na realidade vivida nas favelas. “Isso aqui não democracia, não é nada do que a gente pensa que é viver em sociedade, é muito cruel você estar na rua, sentar com os amigos para tomar uma cerveja, fazer coisas triviais que todo ser humano faz, viver a vida e ver uma dezena de marcas de tiros na porta de um bar, de uma loja de cosméticos, cano estourado, balas e balas no chão, ninguém merece isso”, disse. Ele integra o Instituto de Defesa da População Negra, que atua no Jacarezinho.

Também nas redes, muitos ativistas dos movimentos sociais observavam que os governantes que não protegem contra o vírus e os impactos sociais da pandemia são os mesmos que entram nas favelas com as forças policiais distribuindo violência e dor.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

 

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