Set
13
2024

Próxima quinta (19), Cepex vai deliberar sobre cota trans para graduação e pós-graduação na UFF

Rede Transvesti UFFianas celebra iniciativa que pode beneficiar estudantes transgêneres. A Aduff-SSind convida a comunidade a acompanhar presencialmente, na sede da seção sindical, a retransmissão ao vivo da reunião do Cepex

A reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal Fluminense (Cepex) que acontecerá na próxima quinta (19), a partir das 16h, deve deliberar sobre a regulamentação de cotas na graduação e na pós-graduação para estudantes transgêneres, a partir de 2025, tanto em Niterói quanto nos outros campi da instituição. A reunião é online e conta com transmissão no canal da TV Universitária da UFF no YouTube. A Aduff-SSind convida a comunidade a acompanhar presencialmente, na sede da seção sindical, a retransmissão ao vivo da reunião do Cepex.

A Rede Transvesti UFFianas celebra a iniciativa e considera que a aprovação de um percentual de vagas para estudantes não binários é um avanço para a população que ainda almeja acesso à educação formal e luta cotidianamente contra as mais variadas formas de discriminação. 

De acordo com Ariela Nascimento – graduanda em Ciências Sociais (Licenciatura), integrante da Rede Transvesti UFFianas e representante específica para estudantes trans no Diretório Central dos Estudantes (DCE-Fernando Santa Cruz) – é urgente que outras pessoas trans possam acessar a universidade e dar prosseguimento aos estudos, a fim de produzir conhecimento científico e se instrumentalizar profissionalmente. 

Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), estima-se que cerca de 70% das pessoas trans não concluíram o ensino médio e que apenas 0,02% acessem o ensino superior.

Por isso, Ariela defende a justeza da causa e reconhece ser um avanço o assunto estar em pauta no Cepex. "Dentro desse cenário de avanço da nossa universidade sobre as políticas de cotas para pessoas trans, enfatizamos como isso impacta significativamente na vida da nossa população. Se historicamente nos queiram nas margens e nas esquinas de prostituição, hoje o movimento transvestigêneres politicamente organizado, construído por jovens como eu, demostra para toda a sociedade a potência que temos na produção de outros saberes. Ressalta o projeto de Brasil que acreditamos, para que deixe de ser o país que mais mata identidade transvestis para ocupar o ranking do que mais coloca esses sujeitos em espaços de poder e tomada de decisão", defende.


Acima, Ariela Nascimento - estudante de Ciências Sociais 

A estudante de Ciências Sociais compreende que a votação sobre cotas trans na graduação é consequência de uma demanda apresentada pela Rede Transvesti UFFianas durante audiência com o reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, ao final de 2023, após um episódio de transfobia por parte da equipe de segurança/vigilância da Universidade contra o movimento estudantil.  

Na ocasião, o reitor se comprometeu em criar um Grupo de Trabalho para debater e implementar cotas na graduação para as pessoas trans e travestis na Universidade. A Comissão Transvestigênere foi instituída no primeiro semestre deste ano e envolveu representantes estudantis, técnicos (as) e docentes dedicados a elaborar uma minuta a ser apresentada, discutida e votada pelo Cepex. 

Segundo Gabe Moreira – graduanda em Serviço Social, integrante do diretório acadêmico do curso, do Movimento Juventude Ecossocialista (Juventude Ecoar), da pasta do DCE destinada à população LGBTQIA+ e da Rede Transvesti UFFianas – conseguir a aprovação das cotas trans, especialmente num contexto de impulsionamento dessa política por parte do movimento transuniversitário, tem grande simbolismo. "Não existe na narrativa dos processos de outras universidades que implementaram as cotas para trans o debate sobre o protagonismo trans e transestudantil, a exemplo do que aconteceu na UFF", aponta.

De acordo com ela, a escrita do projeto que implementa a política de cotas para pessoas trans na graduação e na pós-graduação ocorreu com a participação de representantes de um coletivo auto organizado por pessoas trans na universidade.

"É um projeto pioneiro no Rio de Janeiro, a partir de um protagonismo nosso que considerou um campo amplo da transgeneridade: pessoas trans masculinas, pessoas trans femininas e travestis, pessoas trans não-binárias. Isso é muito revolucionário para nós, como Rede Trans, pois queremos ver uma transformação das estruturas da Universidade a partir da nossa ocupação nesses espaços", afirma.

Segundo Gabe, é muito possível que, com a aprovação das cotas trans, haja pelo menos uma pessoa trans ou travesti em cada curso da UFF em Niterói e nos outros campi da instituição. "Isso é objetivamente mudar o perfil cisgênero e cisnormativo, ciscentralizado que a gente tem na Universidade hoje", considera. 


Gabe Moreira é estudante de Serviço Social 

Gabe Moreira lembra ainda que as políticas de cotas etnicorraciais ampliaram a participação da população preta e parda nas instituições de ensino superior. "Conseguimos ver um efeito positivo do enegrecimento das estruturas universitárias. É importante conseguirmos também fazer isso para as pessoas trans, principalmente quando consideramos que somos menos de 1% no ensino superior - o que é consequência de um processo de marginalização, vulnerabilidade e exclusão sofrida por nós, a população trans-travesti", atesta. 

Nesse sentido, Ariela Nascimento e Gabe Nascimento entendem que a decisão é fruto de uma construção coletiva, que envolve a Rede Transvesti UFFianas, o movimento estudantil e outros apoiadores da causa. Entre eles estão os sindicatos de técnicos (Sintuff) e de docentes (Aduff), que também abraçam a defesa de políticas inclusivas para estudantes trans, tal como fizeram no contexto e nas reivindicações da última greve da Educação que recentemente abarcou os três setores na UFF.

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Fotos: Cedidas pelas entrevistadas / Arquivo Pessoal

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