Mar
09
2017

“Nem rouca acordei, irmã, de tanto que foi bom juntar meu grito com o de vocês”

“Hoje, neste histórico 8 de março, nós paramos nossas atividades e ocupamos as ruas da nossa cidade. Olhamos para os lados e nos reconhecemos umas nas outras. Não somos dez, não somos cem, não somos mil. Somos mais! Somos muitas! Somos aquelas que mantemos vivas as lutas das nossas mães, das nossas avós, das operárias russas que iniciaram uma revolução há um século!” Trecho do Manifesto das Mulheres para o 8 de março, Rio de Janeiro/2017

DA REDAÇÃO DA ADUFF

"Nem uma de nós e nenhum direito a menos: contra a Reforma da Previdência e Trabalhista”. Esse foi o mote do ato que levou milhares de mulheres às ruas do centro do Rio de Janeiro, no dia de ontem (08).  A manifestação fez parte do movimento de greve internacional de mulheres, que aconteceu em mais de 55 países pelo mundo, em razão do Dia Internacional de Luta delas.

No Rio, a concentração começou à tarde, na Candelária.  Às 18h, já com cerca de 10 mil participantes, o ato seguiu em marcha até a Praça XV. A cada passo dado, mais mulheres aderiam à manifestação. Portavam cartazes, adesivos, panfletos, bandeiras, instrumentos musicais. Vestiam camisas lilás, vermelhas, pretas, mas também marchavam desnudas, purpurinadas, pintadas de sangue do feminicídio.

Cantavam. Contra todos os tipos de violência que vitimizam mulheres ao redor do mundo. Contra o machismo. O capitalismo. Pela legalização do aborto. Contra a reforma da Previdência e Trabalhista. Fora Temer! Contra a privatização da CEDAE. Fora Pezão! Pelo fim da polícia miliar.

Eram negras, brancas, lésbicas, trans, jovens, estudantes, trabalhadoras, desempregadas, aposentadas. Sabiam exatamente o que faziam ali e continuaram a chegar até que o ato finalmente acabou, depois das 23h. Quem não foi para casa, continuou pelo centro. Ocuparam os bares da Lapa, da Cinelândia, da Rua do Ouvidor. Riram, beberam, comeram, choraram juntas. Lugar de mulher é onde ela quiser. Dormiram e acordaram no dia seguinte. Trocaram mensagem pelo Whatsapp. “Nem rouca acordei, irmã, de tanto que foi bom juntar meu grito com o de vocês”. Voltaram para as ruas para mais um dia de luta, trabalho e resistência cotidiana. Ser mulher no Brasil. Quinto país que mais mata mulheres no mundo.  Ser mulher no Rio de Janeiro. Onde uma mulher é estuprada a cada duas horas.

Por Lara Abib/ Foto: Luiz Fernando Nabuco