Mar
16
2017

Não vamos aceitar trabalhar até morrer: milhares ocupam às ruas do Rio contra reforma da Previdência

Cerca de 100 mil pessoas participaram do ato no Rio. Em São Paulo, estima-se que mais de 400 mil protestaram na Paulista

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O Rio de Janeiro testemunhou na noite desta quarta-feira (15) o maior protesto popular desde a jornada de Junho de 2013. Cerca de 100 mil pessoas ocuparam as ruas do Centro da cidade contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer (PMDB). O ato fez parte do " #15M - Dia Nacional de Paralisações e Lutas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 287)", construído de maneira unitária por todas as centrais sindicais, entre elas a CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), a qual o sindicato nacional dos docentes (Andes-SN) é filiado.

A manifestação foi da Candelária à Central do Brasil puxada por uma multidão que gritava "Fora Temer" e denunciava a política de retirada de direitos do governo "golpista". O governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), condenado pelo TRE-RJ por abuso de poder econômico e político, em fevereiro deste ano, também foi lembrado pelos manifestantes.

O "Fora Pezão" estava na boca de professores das universidades estaduais e da rede estadual de ensino, motoristas e trocadores de ônibus e demais servidores públicos estaduais ameaçados pelo projeto de lei do Executivo que propõe o aumento da contribuição dos trabalhadores para o fundo previdenciário, mas mantém intactas as isenções fiscais bilionárias a grandes empresas no estado do Rio.

No início deste mês, a UERJ adiou maius uma vez o início das aulas do segundo semestre de 2016 por falta de orçamento para garantir o funcionamento mínimo da instituição. Os professores da universidade - que estão com os salários atrasados - deliberaram adesão à paralisação de 24 horas da Educação do Rio de Janeiro e compareceram em peso ao ato. As redes municipal e estadual de ensino também pararam por um dia nesta quarta (15).

" O sucateamento da UERJ e a proposta de desmonte da Previdência do governo golpista de Temer fazem parte de um mesmo projeto de retirada de direitos e de destruição de tudo que é público; o objetivo final é a privatização, entregar nossos direitos nas mãos dos grandes empresários e lucrar com a miséria do povo", ressaltou a professora da Faculdade de Educação da UERJ, Miriam Cardoso.

O estudante Gabriel Freire, 15 anos, da Escola Estadual Edmundo Silva, em Araruama, Região dos Lagos, era um de muitos jovens que participavam do ato. Nas palavras dele: "Fiz as contas e para me aposentar com aposentadoria integral, se essa reforma passar, eu teria que começar a trabalhar com 16. Eu estudo em tempo integral, teria que fazer uma escolha entre priorizar meus estudos ou arranjar um emprego. Essa reforma é uma tolice porque parece que ela é feita para ninguém conseguir aposentar e para retirar o direito de pessoas que já contribuíram a vida toda com a Previdência. A gente perde o direito à aposentadoria e o direito à educação, porque isso só vai gerar mais evasão escolar e uma ideia de que a gente só tem que trabalhar, trabalhar, trabalhar", analisou o estudante. É do movimento secundarista uma das músicas mais impactantes da manifestação: "da previdência não abro mão, nosso futuro não será escravidão".

Repressão à mobilização popular marca fim do ato

Como já virou corriqueiro nos atos no Rio de Janeiro, o final da manifestação desta quarta-feira foi decretado não pela população que ocupava as ruas, mas pela Polícia Militar. Quando o protesto chegou na Central, foi recebido com bombas de efeito moral. No início eram poucas, jogadas à distância. Minutos depois o barulho era contínuo e cada vez mais intenso, assim como a sensação de ardência nos olhos e nó na garganta. A repressão fez milhares de pessoas - entre jovens, adultos, idosos e crianças - recuarem ao mesmo tempo. Houve correria e muita indignação. "Fora Temer" foi cantado mais uma vez, agora ainda mais forte. O grito pelo fim da polícia militar também foi repetido em uníssono.

Depois de assustar e dividir as quase 100 mil pessoas em grupos menores, a Polícia Militar também se dividiu e começou a jogar bombas de efeito moral por todo o Centro do Rio de Janeiro, inclusive nos arredores de todas as estações de metrô, onde as pessoas tentavam ir embora. Quem protestava, era perseguido e apanhava. O objetivo era claro: desocupar as ruas e reprimir a mobilização popular.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib / Foto: Luiz Fernando Nabuco