Mar
17
2017

15M - Repressão policial trouxe terror às ruas do Centro do Rio após ato pacífico contra reforma da Previdência

A professora e ativista da Aldeia Maracanã, Mônica Lima, sofreu três fraturas na perna e terá que passar por cirurgia após agressão da Guarda Municipal, na noite de ontem (15). Policia Militar também lançou bombas de gás nas dependências do prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e do Instituto de História da UFRJ (IFCS-IH), no Largo de São Francisco de Paula

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O ato que levou cerca de 100 mil pessoas às ruas do Centro do Rio de Janeiro contra a proposta de reforma da Previdência de Michel Temer (PMDB) , o maior protesto popular realizado na cidade desde a jornada de Junho de 2013, terminou com forte repressão policial, na noite de quarta (15). A manifestação que saiu da Candelária e percorreu toda a Avenida Presidente Vargas sem incidentes foi recebida com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na altura da Central do Brasil, quando o protesto já chegava ao fim. A imensa maioria das pessoas presentes aproveitava a dispersão do ato para encontrar conhecidos, conversar e descansar da caminhada que durou cerca de duas horas.

A repressão - inesperada e injustificada - fez milhares de pessoas recuarem ao mesmo tempo. Houve correria e muita indignação. Ainda próximo à Central, a professora e ativista da Aldeia Maracanã, Mônica Lima, foi agredida por policiais da Guarda Municipal. Ela sofreu três fraturas na perna e deve passar por cirurgia nesta sexta (17). A agressão foi registrada pelo fotógrafo da Aduff-SSind, Luiz Fernando Nabuco.

"A moça estava filmando com um tablet a movimentação dos guardas municipais. Estava a uns três metros de mim, quando vi dois guardas se aproximarem dela de forma agressiva. Foi muito rápido, só deu tempo de apontar a câmera e fazer as fotos. Um dos guardas dá uma rasteira nela, eles ainda xingam a moça. Após a agressão, fui tentar ajudá-la e percebi que seu tornozelo estava mole, dobrando para o lado. Ninguém da Guarda Municipal chamou ou prestou socorro", afirma Luiz.

O fotógrafo ainda conta que um dos guardas municipais chegou a apontador o disparador de bombas para a imprensa que testemunhara e registrara a agressão, mas foi impedido de disparar por um outro guarda. "Todos da imprensa ficamos revoltados".

Depois de dispersar o ato de 100 mil em grupos menores de gente apressada e assustada, o Choque da Polícia Militar também se dividiu em grupos e começou a jogar bombas de efeito moral pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, inclusive nos arredores das estações de metrô, por onde as pessoas tentavam ir embora. Bem rápido, a fumaça das bombas tomou conta de todo o Centro da cidade. Na Cinelândia, Luiz também registrou policiais militares apontando escopetas de bala de borracha para pessoas que estavam no bar Amarelinho e vaiavam a ação da PM. Nas redes sociais, muitos relatos se assemelham aos registros do fotógrafo.

Direções do IFCS-IH, da UFRJ, repudiam violação do espaço universitário pela PM e se solidarizam com os manifestantes vítimas da repressão policial na noite de quarta (15)

Em nota publicada na manhã de quinta (16), assinada pelas direções do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) e do Instituto de História (IH), a UFRJ publicizou e repudiou a ação da polícia militar que atacou e jogou bombas nas dependências da universidade, na dispersão do ato.

"Lamentavelmente, como na noite de 20 de junho de 2013, a famosa "quinta sem lei", o prédio do IFCS-IH (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e do Instituto de História da UFRJ) foi alvo da violência policial do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Após ato público plural e democrático, em que centenas de milhares de pessoas pacificamente manifestaram-se contra a perda de direitos que será produzida pelas reformas previdenciária e trabalhista do governo Federal, a polícia, que reprimia duramente os manifestantes por todo o centro da cidade, cercou nosso prédio e lançou dentro de suas dependências duas bombas de gás lacrimogêneo e mais sete de efeito moral. Os petardos produziram terror e pânico em quem estava no prédio. Registra-se que uma das bombas atingiu a porta principal e seus efeitos alcançaram o hall de entrada, tomando posteriormente todo o prédio".

A nota também se solidariza com os manifestantes vítimas de repressão e reafirma a "posição histórica da casa em defesa da democracia e de seus direitos fundamentais". "Se já era inaceitável a repressão dos trabalhadores e estudantes no exercício do seu direitos de manifestação, o fato fica agravado com o ataque do espaço universitário. Tristes tempos em que policiais violavam universidades permanecem ainda em nossa memória", diz outro trecho da nota.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib/ Fotos: Luiz Fernando Nabuco