DA REDAÇÃO DA ADUFF
"O SUS é nosso, ninguém tira da gente. Direito garantido não se compra e não se vende". Essa palavra de ordem, cantada em coro, encerrou o ato em frente ao Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap), em Niterói (RJ), nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira, 19 de setembro de 2022 - data em que o Sistema Único de Saúde completa 32 anos de existência.
O ato uniu a defesa da saúde pública com a luta pela entrada em vigor do piso nacional da Enfermagem, aprovado no Congresso Nacional, mas suspenso por 60 dias por decisão do Supremo Tribunal Federal - na qual 7 dos 11 ministros alegaram que o piso foi aprovado sem previsão orçamentária.
A Aduff participou da manifestação, organizada por diversas entidades sindicais e do movimento em defesa da saúde pública, entre elas o Sintuff, o Sindsprev-RJ e a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. Haverá mais dois atos com a mesma pauta no dia 21 próximo, quando está convocada uma paralisação de 24 horas dos trabalhadores da Enfermagem: no Hospital da Lagoa, na Zona Sul do Rio, a partir das 11 horas; e na Praça da Inconfidência, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, a partir das 14 horas.
Rejeição à Ebserh
Também integrou a pauta a defesa da rescisão do contrato com a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que hoje controla o Huap e a maioria dos hospitais universitários do país.
Ao falar durante o ato, a representante da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense - seção sindical do Andes-SN disse que a entrega do Hospital Antonio Pedro para a Ebserh, em abril de 2016, se configurou numa derrota para a saúde pública e para a população. Gelta também declarou total apoio à luta da Enfermagem. "É uma categoria imprescindível para a saúde e que merece todo nosso respeito e salários dignos", disse.
Pauta histórica da categoria, o piso prevê o pagamento mínimo de R$ 4.750 para enfermeiros, R$ 3.325 para técnicos de enfermagem e R$ 2.375 para auxiliares de enfermagem e parteiras. Na Câmara dos Deputados, a votação teve ampla maioria - apenas a bancada do Novo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e o líder do governo na Casa, Ricardo Barros, votaram contra a Enfermagem.
'Empresários da saúde contrários ao piso ficaram mais ricos na pandemia'
Presente no ato, o vereador de Niterói Paulo Eduardo Gomes (PSOL) disse, à reportagem, que esta luta será vitoriosa e que a alegação das empresas de saúde de que vão quebrar, caso seja implementado o piso, não condiz com a realidade. "O capital sempre tenta tirar a mais-valia e tudo o que possa da classe trabalhadora. No ano de 2020, 13 bilionários cresceram muito a sua riqueza. Os dez primeiros não causam surpresa, são banqueiros. Mas os três que vieram depois, são donos de planos de saúde", disse.
O vereador disse que isso explica muito o que está ocorrendo agora. "No ano da pandemia, em que o SUS garantiu milhares de vidas apesar de Bolsonaro, três famílias que controlam planos de saúde enriqueceram. E são estes que interferem diretamente para que seus lucros se mantenham lá em cima às custas dos trabalhadores da área de saúde, em que 60% faz parte do grupo da Enfermagem", complementou.
'Reconhecimento'
O diretor da Escola de Enfermagem da UFF, Enéas Rangel Teixeira, participou da atividade, ressaltou a importância do trabalho integrado da Enfermagem com o ensino e o atendimento à população e defendeu a luta da categoria. "O piso é o reconhecimento da [importância] do trabalho da Enfermagem. Como diretor, cidadão e enfermeiro estou aqui para dar apoio a este ato importantíssimo para nossa categoria", disse, em entrevista à reportagem da Aduff.
'Valorizar Enfermagem é valorizar o SUS'
Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-RJ), Ivone Suppo defendeu ser justo e imprescindível valorizar todos os profissionais da saúde. O novo piso da Enfermagem, afirmou, caminha neste sentido ao determinar salários menos rebaixados para a maior parte destes trabalhadores e trabalhadoras.
"Quando você valoriza a Enfermagem, você está valorizando o SUS. Não tem nenhuma unidade hospitalar que possa dar condições dignas de trabalho aos assistidos em que a Enfermagem não esteja lá fazendo este atendimento. Todos os trabalhadores têm que ser valorizados e a Enfermagem tem que ser valorizada, porque saúde sem enfermagem não existe", disse, à reportagem da Aduff.
"Nós somos ponta em qualquer unidade de saúde, seja ela privada ou pública, somos fundamentais para que essa grande engrenagem do SUS, que hoje completa 32 anos, possa funcionar de forma adequada e digna para dar assistência à população", concluiu Ivone, que é servidora federal da rede de hospitais do Ministério da Saúde.
Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho (texto) e Luiz Fernando Nabuco (fotos e colaboração na apuração)