Jul
31
2023

"É imprescindível na Educação, especialmente com crianças pequenas, a construção de um currículo antirracista"

Natália Barbosa da Silva, professora das séries iniciais e Vice-diretora do Coluni-UFF destaca importância do Julho das Pretas e da luta antirracista na Educação 

Entrevistas são parte das publicações produzidas pela imprensa da Aduff-SSind no Julho das Pretas, mês que celebra as lutas, resistências e também as existências das mulheres negras no Brasil, e que tem como data de referência o 25 de julho - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

“Como mulher negra, professora dos anos iniciais do Coluni-UFF, percebo a importância dos coletivos organizados por mulheres negras, em suas diferentes formas de organização, construídos em diferentes espaços da sociedade. É na luta, na resistência, mas também na existência que a gente se fortalece”, destaca Natália Barbosa da Silva, professora do quadro permanente da Universidade Federal Fluminense, onde atua como professora das séries inicias do Colégio Universitária Geraldo Reis (Coluni-UFF) e, atualmente, ocupa o cargo de Vice-diretora.

Para a professora, a data, que no Brasil, traz uma homenagem a Tereza de Benguela, líder do Quilombo de Quariterê, é uma referência importante para a luta antirracista e para a potencialização da organização dos coletivos femininos negros em prol de uma sociedade que reconheça e valorize a mulher negra.

“Na Universidade, somos poucas ocupando as cadeiras como docentes. Se pensarmos nos cargos de gestão como direção de Unidade e na Administração Central, somos um número menor ainda. Perdemos, de forma precoce, a professora Alexandra Anastácio, pró-reitora de Graduação, uma das poucas mulheres negras a ocupar um cargo de gestão na Universidade e que, durante sua gestão, trabalhou por uma UFF inclusiva e antirracista abrindo, como bem diz Conceição Evaristo  ‘caminhos’, e não se importando em ser a primeira porque o nosso desejo, na verdade, é nunca ser a última” friza.

Na vice-diretoria do Coluni desde janeiro de 2022, Natália sustenta que como uma mulher negra, “que vem da classe popular”, compreendo que no espaço de gestão é primordial afirmar um compromisso para uma educação antirracista, mas que esse compromisso precisa ser de todos.

“É imprescindível na Educação, especialmente com crianças pequenas, a construção de um currículo antirracista que amplie repertórios e referências trazendo para o trabalho nas diferentes áreas do conhecimento mulheres negras cientistas, escritoras, matemáticas, artistas, poetisas etc. Mulheres negras ocupando lugares de decisão na sociedade, cargos de gestão e governamentais”, reforça.

E completa. “Como gestora, entendo que é necessário assumir, para além da construção de um currículo antirracista, a potencialização dessa educação em todos os setores do Coluni. O compromisso da escuta, acolhimento e ações nas denúncias de racismo, na promoção de formação para todos os funcionários, estudantes e seus responsáveis sobre as relações étnico-raciais e na gestão do orçamento para garantir as ferramentas e materiais necessários para uma educação antirracista”.

Natália reitera que as mulheres negras que ocupam espaços na universidade já entenderam a importância e urgência de mais mulheres negras ocupando os espaços da docência e da gestão. “Agora, cabe a toda a comunidade acadêmica assumir esse compromisso. Desejo que a gente consiga ampliar o debate trazendo para a prática a potencialização da política de cotas para docentes e técnicos e a garantia de espaço para mulheres negras nos espaços de gestão”, finaliza.

Da Redação da Aduff | por Lara Abib

Foto: Arquivo Pessoal