Nov
10
2023

“O que aconteceu no Plaza é uma expressão do racismo estrutural que quer determinar em nossa sociedade qual é o lugar de negro”

Professora da Escola de Serviço Social da UFF e integrante da diretoria da Aduff, Jacqueline Botelho comenta denúncia de racismo na loja da C&A, no Shopping Plaza, em Niterói. A entidade convida toda a comunidade universitária a participar do ato desta sexta (10), a partir das 18h, contra o racismo. Protesto sai da Praça Araribóia e segue até a entrada lateral da C&A, no Plaza.

“Dessa vez a denúncia foi no Shopping Plaza, mas a gente acompanha o racismo a céu aberto caminhando no calçadão de Icaraí. Essa é a realidade de quem quer circular pela cidade de Niterói, uma das cidades mais racistas do Brasil”, afirma a professora da Escola de Serviço Social da UFF, Jacqueline Botelho.

A docente destaca as graves desigualdades sociais e econômicas de Niterói e a importância de denunciar os absurdos que acontecem no cotidiano da cidade, exigindo respeito e justiça para a população negra e o direito de estar e circular na cidade. Ela explica que o lugar de negro definido pela sociedade racista não é o lugar da cidade frequentado pelo conjunto das pessoas, como espaços de lazer, de consumo.

“A população negra é sempre criminalizada e perseguida como aquela que coloca ameaça aos espaços. Isso é uma expressão do racismo em nossa sociedade. O racismo opera para definir qual é o território que o negro deve circular nessa cidade. Ele não é bem vindo em Icaraí, no Ingá, nas lojas e serviços desses e de outros territórios, inclusive em serviços de saúde que são essenciais para a população. O negro é atacado diariamente nessa cidade. É importante que a gente possa denunciar esses absurdos”, reforça.

O ato desta sexta (11) convoca para mais uma manifestação contra o racismo e denuncia um caso ocorrido na sexta-feira passada (03), na loja da C&A, no Shopping Plaza. O alvo, de acordo com as denúncias, foi o professor da Rede Estadual, Ubaldino Raimundo Pereira.

Para a docente, existe uma condição objetiva para a população negra de carência em várias áreas, com negação de acesso a serviços públicos e um quadro social e econômico muito difícil que faz com que as pessoas naturalizem esse lugar como o lugar de negro. “Ou seja, o lugar do abandono, o lugar da carência, o lugar da ausência de direitos. Aí quando alguém negro circula por outros espaços é como se tivesse dado algo errado. Aí os seguranças são ativados, o policiamento é ativado. Como se aquela pessoa, aquele representante do grupo étnico social negro não pudesse estar naquele espaço”, analisa.

A docente reitera e defende -  “Não podemos nos calar, a cidade é um espaço para todos, temos o direito de estar nela, de usufruir dos serviços que são ofertados porque contribuímos com essa cidade, porque somos trabalhadores e trabalhadoras, porque geramos riqueza. Essa cidade não funciona, não acorda, sem trabalhadores negros e negras, em vários aspectos. Temos que ser respeitados. Queremos justiça e respeito à população negra”, finaliza.

Da Redação da Aduff | por Lara Abib

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