Dez
19
2023

Feira mensal de agroecologia na UFF de Rio das Ostras – primeiro ano de uma experiência extensionista popular

Em carta, a organização da feira, composta por representação de projetos de extensão e coletivos populares, faz um balanço de como tem sido este primeiro ano de uma iniciativa que se soma a tantas outras na luta para apoiar a agricultura familiar de base agroecológica, o trabalhado das mulheres agricultoras, na construção de uma relação produtiva que conserve e preserve o meio ambiente, a água e demais bens naturais e possibilite novas relações sociais, sem machismo, racismo e qualquer forma de preconceito, alimentando sonhos coletivos por um mundo melhor

Feira mensal de agroecologia na UFF de Rio das Ostras – primeiro ano de uma experiência extensionista popular / Luiz Fernando Nabuco

A professora Suenya Santos destaca que a realização da feira agroecológica é um sonho antigo e uma demanda de projetos de Extensão do Departamento Interdisciplinar de Rio das Ostras, que realizam atividade extensionistas há alguns anos na região, com assentamentos, acampamentos do MST e com  Articulação de Agroecologia da Serra Mar.

As feiras, que já aconteciam durantes as Jornadas Universitária Pela Reforma Agrária (JURA) e em outros eventos na universidade, foram ganhando importância e reconhecimento, “em função de um déficit profundo de apoio a essa produção e à comercialização agroecológica, sobretudo no Estado do RJ”, frisa a docente.

“A gente avaliou que era importante que a universidade desse sua contribuição, ainda que não substitua a política pública, mas que a feira agroecológica se agregasse às ações extensionistas com periodicidade mensal”. A feira ainda conta com o apoio da Rede de Agroecologia da UFF, que integra professores e estudantes de outros campi da UFF. Junto à gestão da Universidade Federal Fluminense, a organização da feira conseguiu a aquisição de duas barracas, uma balança e uma geladeira, o que possibilitou uma infraestrutura mínima para que o projeto se estruturasse e fosse apresentado e aprovado no Colegiado do Instituto de Humanidades e Saúde de Rio das Ostras.

A professora que coordena o Projeto de Extensão ‘Semeando agroecologia no campo e na cidade’ ressalta um contexto em que as mulheres são maioria no projeto.

“As mulheres são maioria na feira e carregam uma preocupação fundamental com o cuidado, não só individual, comunitário, mas com o meio ambiente e com a saúde familiar. Dentre muitas coisas, um dos elementos centrais da agroecologia é a redução e até a eliminação do uso de agrotóxicos. Isso é muito importante porque a gente já vinha num contexto em que um dos marcos terríveis do governo Bolsonaro foi a liberação enorme de usos de agrotóxicos proibidos em muitos países. E isso tem tido continuidade no atual governo. Essa é uma luta e um trabalho das mulheres”, reitera.

Suenya também reforça que a fome continua presente em todos os territórios, rurais e urbanos e destaca a importância da reforma agrária e da produção de alimentos saudáveis neste contexto. “A alimentação saudável é um direito humano. Se os governos entenderem a importância da reforma agrária, as pessoas que se dedicam à produção de alimentos saudáveis podem ter segurança de ter seus territórios, de ter políticas que incentivem essa produção, essa comercialização. Além disso, vão poder se manter nos seus territórios rurais de forma digna, sem precisar ir para as periferias das cidades, numa situação terrível de desigualdade, de desemprego e de adoecimento de muitas ordens”, diz.

A docente ainda chama a atenção para a dimensão cultural e de formação política na feira agroecológica. “É um momento de conversa, de troca, seja falando de um produto específico, de uma receita, seja de alimentos ou da produção de um cosmético natural. Nesse sentido, eu acho que é importante que a universidade abrace e apoie essas iniciativas”.

Suenya finaliza dizendo que a organização da feira não substitui, de forma alguma, a elaboração, reivindicação e implementação de políticas públicas pelo Estado. Pelo contrário, o momento é de cobrança e de retomada da luta pela implementação de políticas públicas para esse campo, como mostrou o último Congresso Brasileiro de Agroecologia, realizado no último novembro na cidade do Rio de Janeiro.

“O que eu posso dizer e afirmar é que tem agricultura, e tem agricultura familiar de base agroecológica no Rio de Janeiro. Temos uma política estadual para a produção orgânica e agroecológica que a gente precisa acompanhar e estimular a implementação dela, identificar esses sujeitos através das nossas pesquisas e extensão para que, de fato, elas tenham acesso a essas políticas.

CARTA DA ORGANIZAÇÃO DA FEIRA DE AGROECOLOGIA DA UFF DE RIO DAS OSTRAS PARA A COMUNIDADE

No ano de 2023, por iniciativa de ações extensionistas do Departamento Interdisciplinar de Rio das Ostras, o projeto de feira mensal de Agroecologia da UFF foi apresentado e aprovado no colegiado do Instituto de Humanidades e Saúde/ Campus de Rio das Ostras.

Tal iniciativa expressa um sonho e ao mesmo tempo uma longa caminhada de atividades extensionistas em territórios rurais na região a partir da identificação de coletivos, organizações populares, movimentos sociais que vêm apostando na transição agroecológica sem apoio de políticas públicas ou com apoios pontuais de alguns/as técnicos/as, circunscritos a alguns governos, não se caracterizando como políticas de Estado.

Dessa forma, as feiras visam apoiar tais coletivos no sentido de complementar renda e fortalecê-los para avançarem na luta por políticas públicas de acesso à terra e a um conjunto de políticas que possibilite uma vida digna para quem produz “comida de verdade”, com diversidade, ancestralidade, sem agrotóxicos e que busca romper com estruturas patriarcais, sexistas e racistas na vida cotidiana.

Por meio da mediação da Rede de Agroecologia da UFF, a qual integramos, junto à reitoria da UFF, adquirimos duas barracas, uma geladeira e uma balança para uso comum e assim demos início a esse projeto de feira mensal. A partir de então, nos lançamos nesse desafio com a preocupação em construir esse espaço com os próprios coletivos na organização das feiras. Nessa processualidade, recebemos muitas demandas de pessoas que querem se integrar à feira e fomos ensaiando algumas estratégias, conversando de barraca em barraca sobre a importância de que os produtos sejam agroecológicos.

Nossa compreensão é de que a feira está para além de um espaço de comercialização, sendo, ao mesmo tempo, um espaço de resistência, de cultura, de formação política, dialogando com a sociedade, ampliando o mercado de consumidores conscientes, num cenário de disputas de modelos de desenvolvimento no país em que a agroecologia se opõe ao agronegócio. Nesse sentido, alertamos que as nossas ações extensionistas não têm como atestar tecnicamente se os produtos são agroecológicos e que, ao mesmo tempo, precisamos zelar pelo campo agroecológico num cenário tão desfavorável para a agricultura familiar em que o mercado de alimentos é dominado pela lógica da concentração de terras, da degradação ambiental, do uso intensivo de venenos, da superexploração do trabalho, da violência, dentre outros elementos históricos que se perpetuam em nossa região.

Nesse contexto, ponderamos entre as equipes das atividades extensionistas e as representações dos coletivos que organizam a feira, que era necessário avaliar o que seria possível acompanhar nesse momento inicial, pois as demandas para participação da feira de forma isolada e sem controle social dos produtos permaneceu e foi se ampliando, colocando em risco um trabalho coletivo de longa data.

Dessa forma, debatemos e pactuamos o seguinte critério para exposição na feira: participação em algum coletivo agroecológico da região que seja acompanhado por algum Programa ou Projeto de extensão que organiza a feira.

?Programa de extensão Semeando Agroecologia no Campo de na Cidade

?Projeto de extensão Mulheres da terra que cuidam e curam

?Departamento Interdisciplinar de Rio das Ostras

Feira mensal de agroecologia na UFF de Rio das Ostras – primeiro ano de uma experiência extensionista popular / Luiz Fernando Nabuco

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